domingo, 29 de outubro de 2017

Conto - Halloween


Salve leitores, tudo bem com vocês?

Como prometido, hoje eu apresento um conto escrito por mim na integra, espero que gostem.


Dias das bruxas nunca me atraiu, por pura ironia nasci justamente trinta e um de outubro, por morar em um condomínio de classe média da zona sul de São Paulo, o nosso zelador teve a “brilhante” ideia de aderir o costume da famosa tradição americana de sair com crianças fantasiadas para pedir doces nas casas dos condôminos e eu sempre arrumava um motivo para sair, já que era meu aniversário eu achava que no mínimo eu poderia ficar o mais longe possível dessas festividades sem noção na minha opinião, foi quando o meu pesadelo começou a ganhar forma.
            Antes de começar a minha aterrorizante história vou me apresentar, meu nome é Nicolas Alves, mas pode me chamar de Nick, tenho 18 anos e sou um típico nerd, óculos, magro, branco feito a neve, um metro e setenta e cinco de altura e cabelo liso comprido até a altura dos ombros, deixo a barba serrada para deixar pelo menos uma marca de que sou homem, nada contra os homossexuais, mas gosto de enfatizar isso.
            Assim como eu, meus amigos odeiam o Halloween, o mais próximo que chegamos disso é o gosto inusitado de ir ao cemitério à noite e não, não somos góticos, muito menos usuários de drogas, gostamos de ir ao cemitério para conversar simplesmente, o lugar que coloca medo em muitas pessoas me traz paz, afinal quem faz mal são os vivos e não os mortos, tudo seria normal, mas agora o meu aniversário talvez se tornaria também o dia da minha morte.
            O nosso grupo era composto por Conrado, um jovem baixo, mas que curtia musculação, moreno claro e careca, Aline, uma garota loira com olhos cor de mel e linda, mas muito, muito brava mesmo, Ivan o mais parecido comigo a diferença era os traços asiáticos, descendente de japonês e eu, nós quatro não tínhamos problemas para invadir o cemitério à noite, mas devido ao dia das bruxas tivemos que esperar até depois da meia noite, quando pulamos o muro a rua já estava deserta e o cemitério como sempre calmo e silencioso, tudo estava normal, menos o centro do local, não éramos os únicos vivos no cemitério aquela noite.
            Eu como sempre fui o último a pular e quase caí ao lado de Ivan que estava paralisado de medo, Conrado e Aline foram rápidos e se esconderam atrás dos túmulos mais próximos, eu por outro lado, estranhamente, não estava com medo eu queria saber o que aquele homem ou mulher estava fazendo, foi quando Ivan gritou chamando a atenção da pessoa para nós, naquele momento pensei que era o nosso fim, mas para nossa sorte ou não a pessoa saiu correndo e desapareceu por entre os túmulos, Aline me puxou de um lado e Conrado puxou Ivan do outro lado.
            – O que deu em vocês dois? – Perguntou Aline irritada.
            – Eu não sei, fiquei de uma maneira estranha, hipnotizado. – Disse ainda meio zonzo.
            – Está usando drogas agora, Nick? – Perguntou ela me encarando seriamente.
            – Claro que não, larga de ser idiota. – Aquela última palavra me rendeu um soco, era difícil acreditar na força da Aline.
            – Ei vocês dois, já podemos sair de trás dos túmulos, vi a pessoa pulando no outro muro. – Disse Conrado que enxergava incrivelmente bem no escuro.
            Eu e Aline saímos de trás do tumulo onde estávamos escondidos e devagar íamos nos aproximando do centro do cemitério para ver o que estava sendo feito, o que vimos lá nunca mais se apagou da minha mente.
            Uma mesa de concreto, havia sido colocada no local, um corpo de uma mulher todo aberto e morto aparentemente a pouco tempo, velas pretas nos quatro cantos da mesa de concreto e uma foto de um casal colocado em um pequeno corte feito no coração, um cálice provavelmente com sangue no chão ao lado de uma bacia onde havia desenhado um pentagrama.
            – Isso é satanismo. – Aline pegou no meu braço, pela primeira vez vi a expressão de medo nela.
            – Precisamos sair daqui agora. – Disse Conrado se afastando.
            – E deixar essa cena aqui sem fazer nada? – Questionou Ivan que agora não estava mais em estado de choque.
            – Claro Ivan, falaríamos o que? Que invadimos o cemitério de madrugada e encontramos um corpo aberto? Eles no prenderiam antes que pudéssemos explicar qualquer coisa. – Disse sem tirar o rosto de terror da jovem morta diante de nós.
            – Vamos embora por favor. – Aline puxou o meu braço.
            – Tudo bem, vamos antes que nos liguem de alguma maneira a isso e vamos guardar segredo, sem envolvimento não haverá consequência. – Sem que eu percebesse Ivan colocou os dois dedos nas pálpebras da moça e fechou os olhos dela que até então estavam abertos.
            – Não faça isso Ivan, isso agora vai pegar em você nunca se toca em um ritual como esse. – Disse Conrado se afastando de Ivan.
            – Isso não tem nexo. – Falou Ivan virando as costas e indo em direção ao muro pelo qual entramos.
            – Vamos Nick. – Disse Conrado e ao olhar para Aline ela estava quase chorando, nunca a tinha visto tão fragilizada daquele jeito.
            – Certo vamos. – Antes de pular o muro eu dei uma última olhada no corpo aberto no centro do cemitério e uma sensação ruim eu senti de que aquilo de alguma maneira envolveria a todos nós.
            Quando já estávamos fora do cemitério, todos levamos pelo menos dois minutos para assimilar tudo o que havíamos visto, foi então que o celular de todos exceto o do Ivan apitou, ao olharmos vimos a foto da mulher morta.
            – Ivan que brincadeira de mau gosto. – Disse Conrado quase lhe dando um soco.
            – Quer ir à delegacia vai logo idiota. – Aline apagou a foto de seu celular.
            – Pessoal é melhor irmos embora, quanto mais tempo ficarmos aqui pior vai ser. – Eu disse por fim.
            – Nick, você pode me acompanhar até a minha casa. – Disse Aline cabisbaixa, ela realmente tinha ficado abalada com a imagem.
            – Claro, sem problemas. – Disse tentando confortá-la.
            – Então é isso pessoal, até mais. – Falou Conrado, então cada um seguiu para uma direção.
            Caminhamos em silêncio até a casa da Aline, ao chegar em frente a sua casa ela se sentou na calçada fazendo sinal para eu fazer o mesmo, em seguida tirou um maço de cigarro da bolsa e acendeu um.
            – Você não tinha parado? – Perguntei sem entender.
            – Depois do que vimos é a única coisa que talvez possa me acalmar a ponto de conseguir dormir. – Disse ela após dar a primeira tragada. – E você como está? – Perguntou olhando para mim.
            – Eu estou bem, só sinto um pouco pela moça, ela é uma vítima e agora é bem provável que a polícia nos procure já que o Ivan tocou nela.
            – Ele agiu como um completo idiota hoje, mais do que o normal – Aline olhava para o céu.
            – Eu só acho que ele devia ter tido um pouco mais de bom senso, isso pode recair sobre ele uma hora. – Disse com a cabeça baixa.
            – Obrigada por me acompanhar Nick, você é um bom amigo. – Disse ela se levantando.
            – Sabe que pode contar sempre comigo. – Me levantei e sorrindo, ela me deu um beijo na bochecha e entrou na casa dela.
            Segui pela cidade deserta até a rua de casa até que a vi, a velha do cemitério estava me esperando no meio da rua.
            – Nicolas Alves, não devia andar sozinho de madrugada, coisas ruins acontecem depois da meia noite. – Disse ela com a voz rouca, como um passe de mágica ela estava próxima de mim me deixando em estado de choque. – Você e seus amigos não deviam ter me atrapalhado hoje, isso lhes custará muito caro.
            – Não fizemos nada. – Tentei soar o mais firme possível, por mais que aquela senhora fosse baixa e eu não conseguisse ver o rosto dela por debaixo do capuz vermelho ela ainda me dava muito medo.
            – O seu amigo tocou no meu trabalho ele será o primeiro a pagar. – Disse ela pausadamente.
            – Mas eu não fiz nada. – Falei com tom de arrependimento.
            – Exatamente, não fez nada, por isso você será o último, verá eles sofrerem e não poderá fazer nada para impedir. – Após dizer isso como um espírito ela desapareceu.
            Comecei a andar rápido, quase correndo, com muito custo entrei em casa, sem fazer barulho passei pela portaria e entrei no elevador sem olhar para o porteiro, quando entrei no meu quarto tranquei a porta e me sentei trêmulo na cama, queria ligar para a Aline, mas isso deixaria ela mais nervosa e com certeza tiraria o sono dela, apaguei a luz, me deitei na cama e como uma hipnose eu adormeci para o pior sono da minha vida.
            Eu abri os olhos e estava em um local empoeirado, tudo estava escuro exceto em um local distante, uma espécie de janela, pelo menos foi o que eu achei, caminhei lentamente já que estava totalmente escuro e eu estava descalço, quando cheguei à janela a visão do outro lado foi do interior de um banheiro, demorou um pouco, mas então me de conta que eu estava do lado interno de um espelho.
            Assim que analisei o banheiro vi o Ivan entrando, era o banheiro da casa dele, me abaixei como reflexo achando que ele me veria, mas não aconteceu nada, só eu podia ver ele, analisei a cena tentando entender o motivo daquilo, era o sonho mais real da minha vida, no momento seguinte começou o pesadelo a velha entrou no banheiro e Ivan paralisou de medo, comecei a socar o vidro, mas nada acontecia, parecia que eu estava socando concreto, senti minhas mãos sangrarem, era inútil.
            Eu a vi falar algo para ele e ele parecia preso com os olhos cheios de lagrimas, o que vi a seguir nunca vai sair da minha mente, vi ele fechar os olhos e se contorcer de dor então sangue começou a jorrar dos seus olhos, eu estava chorando de desespero, em menos de um minuto Ivan está caído morto no chão, acordei desesperado e vi o sangue nas minha mãos, em seguida meu celular toca e trêmulo eu atendo o telefone.
            – Ele foi só o primeiro. – Disse uma voz rouca do outro lado da ligação.
            Abri os meus olhos e a claridade do sol invadia meu quarto, demorou um pouco para a minha vista se acostumar a luminosidade local, me sentei e senti as minhas mãos doloridas, mas ao olhar não havia sangue e muito menos ferimentos, nunca tinha tido um pesadelo tão real como aquele, peguei meu celular e vi que eram nove e meia, ou seja, eu estava sozinho em casa, meus pais já tinham saído para trabalhar, minha mãe era enfermeira no hospital das Clínicas e meu pai perito criminal, tudo na minha mente se tornou apenas um pesadelo muito ruim, desde a entrada no cemitério até o momento em que minhas mãos estavam ensanguentadas.
            Me levantei e fui lentamente até o banheiro para fazer a minha higiene matinal, após um banho revigorante fui até a cozinha e vi um bilhete da minha mãe na mesa.

            Bom dia dorminhoco,
            Feliz aniversário novamente, tem presunto, queijo e pães na geladeira e dinheiro para o almoço na mesa, à noite no vemos, beijos, mamãe.

            – E o café tradicional? – Perguntei para mim mesmo, então vi a cafeteira na mesa, vazia. – Que ótimo.
            Enquanto esperava o café ficar pronto comecei a receber as mensagens do grupo, primeiro Aline, em seguida Conrado, escrevi minha mensagem de bom dia, então passado três minutos o celular apitou novamente, era Aline perguntando do Ivan, Ivan não tinha se manifestado no grupo já fazia algumas horas, foi então que fui buscar a última mensagem dele foi então que eu vi a foto da mulher morta no cemitério, eu não tinha excluído aquela foto, no momento seguinte a cafeteira apita avisando que o café estava pronto e quase me matando de susto.
            Tomo café rapidamente e resolvo ir até a casa da Aline, quando estava saindo o interfone toca e o porteiro avisa que uma simpática senhora de vermelho quer falar comigo, meu coração gela, ela agora está atrás de mim.
            Demorei um pouco para responder então o porteiro me chamou novamente.
            – Pode deixar subir Silvio. – Disse e assim que desliguei o interfone fui correndo até a cozinha e peguei uma faca, por mais que fosse uma bruxa e eu não teria a menor chance não morreria sem tentar.
            Passaram três minutos eternos então a campânia tocou fui lentamente até a porta e olhei pelo olho mágico, me tranquilizei e abri a porta rapidamente.
            – Vovó que surpresa agradável. – A abracei e me sentindo incrivelmente seguro com a presença dela.
            – Nossa que abraço gostoso, Nicolas devia estar com saudades mesmo, por que não foi me visitar? – Perguntou ela então viu a faca na minha mão e sua expressão mudou. – Nick eu entendo o seu medo, mas não vai conseguir matá-la com uma faca. – Eu não entendi nada.
            – Vovó o que quer dizer? – Perguntei deixando a faca em cima da pia.
            – Nick, sei do cemitério e vim para tentar salvar a sua vida.
            Não sei o que me aterrorizou o fato da minha avó saber do cemitério ou ela dizer tentar salvar a minha vida, eu realmente poderia morrer e isso quer dizer que o Ivan estava realmente morto.
            Comecei a tremer e caí em desespero, me sentei no sofá e comecei a chorar.
            – Calma Nick, vai dar tudo certo. – Disse vovó me abraçando, aos poucos fui me acalmando, sempre achei que no desespero não se consegue nada.
            – Preciso dos meus amigos antes de tudo vovó. – Falei limpando as lagrimas, vovó assentiu então mandei mensagem no grupo, enquanto digitava via que Ivan ainda não havia se manifestado e agora eu já sabia o porque, assim que enviei a mensagem vi que Conrado e Aline haviam visualizado.
            – Nick enquanto você espera seus amigos eu vou fazer o almoço. – Disse minha avó sorrindo serenamente.
            Não demorou muito e o porteiro ligou avisando que Aline e Conrado haviam chegado, pedi que os deixassem subir e assim que entraram os apresentei a minha avó.
            – Meus jovens, precisamos conversar sobre o que aconteceu ontem, mas somente depois do almoço. – Falou vovó enquanto temperava a carne.
            – Nick, você contou sobre o cemitério para ela? – Perguntou Aline me puxando para o canto e sussurrando.
            – Claro que não, ela chegou agora pouco de surpresa e de alguma maneira sabe o que aconteceu conosco ontem. – Disse me justificando.
            Meu celular toca e vi que era o número do meu pai, atendi e ele me disse o que eu já sabia, Ivan havia sido encontrado morto no banheiro de sua casa.
            Quando desliguei a ligação olhei para Aline e para Conrado e senti uma lagrima cair do meu olho direito, eles entenderam na hora o que tinha acontecido.
            – Por que o Ivan tinha que ter mexido naquele corpo, nunca se toca em um trabalho assim, devíamos ter ido embora na hora em que vimos aquilo. – Dizia Conrado sem se conformar.
            – Que horas é o velório? – Perguntou Aline aos prantos.
            – Meu pai falou que assim que liberarem o corpo ele me avisa. – Disse tentando ser forte.
            – Crianças o almoço está pronto. – Disse minha avó sorrindo, o almoço foi o mais silencioso e desconfortável da minha vida, ninguém estava com apetite para comer depois daquela notícia. – Tudo bem crianças eu entendo o que estão passando, perdi um amigo também nas mãos de Zilda. – Todos a olhamos sem entender. – É melhor irmos conversar na sala.
            Fomos todos para a sala e esperamos e silêncio minha avó arrumar a cozinha para se juntar a nós assim que ela terminou foi até a sala e sentou-se ao meu lado pegando na minha mão e olhando para mim e meus amigos com ar sereno.
            – Meus jovens, talvez eu consiga ajudar vocês já que eu também sou uma bruxa. – Nós três nos olhamos pasmos, minha avó era uma bruxa, agora eu precisava saber se ela era boa ou ruim.
            – Calma rapazes, acredito que dona Aurora vai nos ajudar, vejo bondade na voz e nos olhos dela. – Disse Aline e vovó assentiu serenamente.
            – Há muitos anos atrás, eu e Zilda começamos a ser ensinadas pelo meu avô sobre a arte da magia milenar dos grandes magos e feiticeiras do mundo, o material era somente a mente e que era passado de geração a geração pelos pais, como Zilda era minha melhor amiga eu pedi para vovô ensinar a magia para ela também, meu avô não gostou da ideia, pois havia diversos casos onde pessoas que não eram ensinados por um membro da própria família se voltarem para o lado negro da magia, eu insisti muito e por fim meu avô aceitou, foi meu primeiro erro, ele nos ensinou por cerca de 3 anos e quando terminamos ficamos muito felizes, fizemos o juramento de usar a magia somente para o bem, a mãe de Zilda estava muito doente e Zilda por sua vez usou todos os seus conhecimentos em magia para tentar curar a mãe, vendo que não estava conseguindo efeito pediu por minha ajuda, juntas trabalhamos por dias através da magia para salvar dona Francisca que por fim não resistiu, depois desse dia Zilda mudou completamente disse que todos pagariam pela morte de sua mãe, sua primeira vitima foi meu avó, ela o matou a facadas enquanto ele dormia já que um mago ou feiticeira tem uma defesa contra qualquer ataque mágico, ela desapareceu depois disso então me casei e engravidei da sua mãe, foi quando Zilda apareceu novamente e matou o seu avô, Nick. – Disse vovô me deixando ainda mais cabisbaixo, foi quando senti a mão de Aline no meu ombro – Decidi não ensinar magia para ela tanto é que ela não sabe que sou bruxa, coloquei uma proteção que me avisaria se qualquer um da minha família estivesse em perigo de nível mágico, foi quando o meu sensor avisou que você estava em perigo através do que até hoje você achava ser um sinal e nascença. – Ela apontou para o circulo perfeito preto em meu braço.
            – Mas dona Aurora a senhora vai conseguir nos ajudar? – Perguntou Conrado com olhar de desespero.
            – Acho que sim, mas vou precisar da ajuda mágica de Nick, ele é um bruxo, mas precisa aprender a se defender e atacar através da magia se quiserem ter uma chance. – Disse minha avó então vi Aline e Conrado olhando para mim, como se não bastasse eu saber que minha avó era uma bruxa agora acabará de descobrir que eu também era e a vida dos meus amigos dependia desse fator.
            Como já era de se esperar minha avó nos aconselhou e ficarmos juntos, pois Zilda sempre procura atacar suas vitimas quando elas estão sozinhas e segundo a minha avó não dava para saber qual era o próximo alvo, ela tirou um caderno antigo de sua bolsa e me entregou.
            – Nick, esse é seu livro de feitiços. – Disse ela serenamente, mas nem isso me tranquilizava.
            – Mas vovó, está em branco. – Falei assim que o abri.
            – É porque você ainda não aprendeu nenhum feitiço. – Disse ela sorrindo para mim. – Você vai descobrir a própria maneira de realizar seus feitiços e anotá-los neste livro.
            – Entendi. – Respondi ainda sem entender direito o que estava acontecendo.
            – Você não está sozinho Nick. – Disse Aline com olhar de compaixão.
            – Conte comigo também amigão. – Falou Conrado com otimismo.
            – Obrigado pessoal, não se preocupem, eu vou vingar a morte do Ivan.
            Passamos a tarde conversando, na verdade minha avó estava me ensinado feitiços de proteção enquanto Aline e Conrado assistiam, um mais curioso que o outro, foram três horas intensas entre teorias em práticas, terminei esgotado fisicamente e mentalmente.
            – Conforme você vai avançando fica mais fácil manusear a magia. – Disse minha avó enquanto limpava o suor da minha testa.
            – Espero que sim. – Falei ainda ofegante.
            – Coma uma semente dessa, vai se sentir melhor. – Disse vovó me dando uma pequena semente verde do tamanho de um alpiste, meio incrédulo engoli a semente então como uns dois litros de energéticos injetados na veia eu me senti totalmente revigorado.
            – O que é isso vovó? – Perguntei olhando meus braços sem senti-los pesados como alguns segundos atrás.
– São sementes mágicas da malásia. – Disse ela as guardando novamente na bolsa.
            – Onde compro elas? – Perguntei curioso.
            – Na Malásia. – Repondeu ela me deixando sem graça e fazendo Aline e Conrado rirem, no momento seguinte meu pai e minha mãe chegam então como um baque voltamos a realidade da situação, havia chegado a hora de dar o último adeus ao Ivan.
            Seguimos três em cada carro, vovó e meus pais no carro do meu pai e eu, Aline e Conrado no carro da minha mãe, minha avó achou mais prudente cada bruxo ir em um carro para caso Zilda inesperadamente aparecesse, mesmo que eu achasse isso muito pouco provável.Chegamos ao velório municipal e muitas pessoas já estavam presentes, o corpo havia acabado de chegar, tanto eu quanto Aline e Conrado hesitamos em entrar, desde de crianças nós quatro éramos inseparáveis e agora um de nós não estaria mais presente em nossas aventuras, nada seria como antes eu fui o primeiro a entrar então vi Aline e Conrado me seguirem, no caixão Ivan parecia estar dormindo, mas não por vontade, a vida dele foi tirada por uma maldita bruxa que agora eu faria questão de matar nem que fosse a última coisa que eu fizesse, comecei a chorar silenciosamente foi quando eu senti Aline me abraçar e chorar também.
            – Eu vou fazer aquela velha pagar pelo que fez ao nosso amigo. – Disse de uma maneira que só Aline pudesse ouvir, quando olhei para o lado Conrado não estava mais presente então fui atrás dele, o encontrei sentado em um banco fora do velório chorando sozinho.
            – Desculpa Nick, não ter feito nada para impedir ele. – Falou Conrado aos prantos.
            – Conrado não foi sua culpa, não sabíamos que iria acabar assim, agora precisamos ser fortes por ele. – Coloquei a mão no ombro de Conrado, ele assentiu levemente limpando as lagrimas.
            – Você tem razão. – Disse se levantando.
            – Aonde você vai? – Me levantei também.
            – Vou comprar um coroa de flores. – Disse tentando força um sorriso.
            – Eu vou com você. – Dei uma última olhada para dentro do velório e vendo que Aline estava sentada ao lado da minha avó.
            Atravessamos a rua e entramos na floricultura que ficava aberta vinte e quatro horas e compramos uma coroa de flores com os dizeres “saudades eternas”, eu paguei metade e Conrado pagou a outra metade pedimos para entregar na sala onde Ivan estava sendo velado. Passamos a noite em claro e quando foi três e quinze da manhã vi minha avó sair discretamente, então resolvi segui-la e para minha surpresa ela estava seguindo outra pessoa que por sua vez estava entrando no cemitério, segui ela discretamente até que ela se aproximou da outra pessoa e para minha surpresa era a velha que matou Ivan, abaixei me escondendo em um túmulo próximo e então pude escutar a conversa dela.
            – Se não é Aurora, a bruxa boa que esta de volta a cidade. – Disse a velha com um tom sarcástico.
            – Sim Zilda, eu voltei, e voltei porque descobri que você quer matar o meu neto.
            – Aurora, sua idiota, eu não quero, eu vou. – Aquilo fez a minha espinha gelar.
            – Primeiro vai ter que passar por mim. – Disse vovó fazendo um movimento com a mão onde fez surgir uma bola branca diante dela então a bola de luz foi direto na direção de Zilda que fez outro movimento bloqueando o poder lançado.
            – Agora é minha vez. – Disse Zilda fazendo surgir uma enorme bolha de luz, eu comecei a me desesperar, pois talvez a minha avó não tivesse poder o suficiente para bloquear aquele poder, Zilda lançou a bola e eu não sei como me coloquei na frente da minha avó rapidamente e bloqueei o golpe.
            – Agora é minha vez, velha maldita. – Falei para Zilda e vi o olhar de surpresa, fiz um movimento que nunca havia aprendido e centenas de raios saíram de mim a atingindo em cheio, quando me dei conta ela estava morta no chão. – Vovó a senhora está bem? – Perguntei vendo o olhar de espanto dela.
            – Estou, mas como você fez isso? – Perguntou ela ainda espantada.
– Eu não sei, foi como se algo tomasse conta de mim. – Disse sorrindo foi quando ouvimos uma gritaria no velório, eu e vovó fomos correndo quando vimos Ivan vivo com os pais dele desmaiado e várias pessoas afastadas dele, somente Aline e Conrado o abraçavam chorando então eu olhei para minha avó e ela assentiu então fui abraçar também meu amigo, agora tudo estava bem.

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Até mais.



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