Rosto na Parede. Foto: Francisco Ferreira.
Ainda
hoje lendo Poema Sujo de Gullar –
obra primíssima, se é que me é permitido utilizar deste superlativo sem ferir
de morte a língua de Camões, Machado e Mia Couto – peguei-me conversando com os
botões de minha camiseta sem botões sobre: o que é ser poeta? O que diferencia
poeta de escritor? Existe, de fato, esta diferença? E em existindo a diferença,
será um maior do que outro? Daí lembrei-me de um ferrenho debate travado em um
grupo de escritores de que faço parte no whatsapp acerca de o ser ou não ser poeta. De uma lado,
contistas, cronistas e romancistas ressentidos de serem tratados de forma
inferiorizada por aqueles que escrevem poemas e, do outro, os tais poetas. Como
tenho dificuldades de me autodenominar escritor – já que não vivo de literatura
– encontrei-me perdido, em meio àquele debate, como cego sem guia em terreno
desconhecido; preferindo, portanto, recolher-me à minha insignificância poética
e acompanhar, numa distância segura, o embate entre tantos mestres. Ao final,
dado que não se chegava a acordo nenhum que contemplasse as duas vertentes,
convencionou-se a denominação comum a todos: escritores. E assinou-se o
armistício. O que incomodou-me e ainda incomoda pelo fato já explicitado
anteriormente.
Também
aconteceu de ler um belo texto de A. C. Costa Ferraz, que veicula no facebook,
sobre as dificuldades com que temos de conviver no dia-a-dia por sermos
escritores e portanto, taxados de loucos, sonhadores e visionários. E das
perguntas que, inevitavelmente, sempre ouvimos: por que? Para quê? Para quem? – Como se, para sermos escritores
profissionais ou não, famosos ou anônimos; tivéssemos de pedir habeas corpus, habeas data e termos álibis comprovados por pelo menos 5 pessoas
idôneas e de notável saber e notória fé pública. E da nossa timidez em nos declaramos escritores
e de não raras vezes isto soar, para nós, como desculpas e para os outros, como
heresia – daquelas que deveriam ser punidas com a morte na fogueira -. Feito se
enfrentássemos um tribunal de inquisição em cada esquina.
Claro
está que todo poeta é escritor, de que nem todo escritor é poeta e, ao meu
olhar de leigo, de que nem todo aquele que escreve poemas, poeta seja. O
filósofo português, quase contemporâneo, Agostinho da Silva (1906 - 1994) diz
que “um homem não nasceu para trabalhar,
nasceu para criar e ser poeta à solta” e que “todo o homem tem potencial para ser poeta à solta, significando
poeta, atividade de criação, em qualquer área”. Sendo, portanto, poeta o
homem que faz de sua vida uma profissão de fé na busca infatigável da criação
de poemas – de quaisquer naturezas - de exaltação à vida, aos bons e nobres
sentimentos e aos atos cotidianos que propiciem a criação efetiva desta obra.
Partindo
de mim que sou pouco mais de um escritor medíocre lutando contra as
vicissitudes no afã de me tornar poeta razoável, entendendo poeta como o ser
que busca a igualdade absoluta entre os seres; o respeito ao direito e à
liberdade; a grandeza no pensar, escrever e agir e na construção de um EU mais
humano em cada novo dia. Que o seja, afinal somos muitos escritores, mas,
infelizmente, pouquíssimos poetas – daqueles que trabalham na vida e nas letras
no desenvolvimento de um mundo melhor de se viver. Que nos esforcemos
diuturnamente para sermos poetas, seja em quaisquer atividades que executemos.
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